O banheiro estava um completo desastre. Lama manchava o chão e a bancada da pia de modo assombroso. O vaso transbordava e o chuveiro estava ligado, esperando alguém se render à culpa.
Uma garota despedaçada fitava-se no espelho e observava alguém que não parecia ser ela, alguém que ela nunca imaginou se tornar. Na verdade, o que ela um dia afirmara com total certeza que não seria. Seus cabelos castanhos e despenteados passavam dos ombros, seu lábio inferior estava seriamente cortado, o sangue escorria escarlate e metálico pela face, abaixo de um corte na têmpora.
Seu rosto estava imundo e havia barro endurecido em seus cílios, marcavam sua face também traços de lágrimas que haviam escorrido há pouco. As bochechas, antes extremamente coradas pela adrenalina, agora estavam pálidas como cera de vela.
Como ela chegara ali? Por que ela chegara ali? Mais lágrimas caem, tentando lavar a sua alma. Elas não conseguem, Ela se sente ainda mais suja. Suja demais para essa humanidade pouco humana. Suja demais para si mesma.
Com as unhas cravadas na palma da mão, ela tenta fazer a angústia cair junto ao sangue. Ela observa o líquido rubro correr pela palma arranhada e se pergunta o que fizera, afinal.
Em conflito, ela entra na banheira, ainda de roupas, e afunda o desgosto junto ao corpo, antes de afundar também a vida.
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