Era uma vez: Ferida

Ferida

     Ela é tudo que você sempre quis em alguém. Seja numa amiga, numa mãe ou no amor da sua vida. Ela é a melodia que te acalma e ao mesmo tempo te faz querer dançar. Ela é o que te aquece e, ao mesmo tempo te arrepia de frio. Ela é o joelho ralado durante o esconde-esconde. Ela é o livro que você quer saber como acaba, mas não quer que termine. Todavia, nada disso importa, ela não te deixará chegar nem perto do final desse livro. Quando ela perceber que, sorrateiramente, você já está cativado pela protagonista, ela fará o possível para fechá-lo e nunca mais abrir.
     Ela machuca as pessoas o tempo todo. Todos nós sabemos. Ela deixa você se aproximar, no entanto, se você chegar perto demais, acaba espetando o dedo nos espinhos dessa bela rosa. Se você não se afastar com a dor, se afastará ao ver a rosa fechar-se. Ela, na verdade, não se fechou para o resto do mundo, só para você, mas está fazendo o possível para fingir que sim. Até que você desista e se afaste. Até que você perceba que não é bem-vindo nesse jardim.
     As pessoas a julgam por ser assim. O real problema é que ninguém a julga pela frente. Afinal, ela afasta todos que um dia já tentaram fazer algo parecido. O que ninguém percebe é que quem fere é porque já foi ferido. Ferido tão fundo, mas tão fundo, que nem o tempo cicatriza, que faz você morrer e despedaçar aos poucos até não sobrar nada. Essa ferida é como a de uma faca penetrando lentamente através do coração e da alma. Nunca sara. Nunca para de sangrar.
     Quando isso acontece, você tem que esperar até o fim. Pode demorar ou pode ser daqui a pouco, porém quando o fim chegar, ela estará pronta para renascer e voltar a ser o que era antes. Vai voltar mais forte e menos inocente. Mais dura e menos meiga. Só temos que torcer para que ela volte.